Machado de Assis, conhecido também como o “Bruxo do Cosme Velho”, nasceu no Rio de Janeiro em junho de 1839, e faleceu em sua cidade natal em setembro de 1908, aos 69 anos.

Muito conhecido pelas suas obras em prosa, pouco se sabe sobre as poesias de Machado de Assis. Para comemorar o mês de aniversário desse importante escritor brasileiro, selecionamos cinco poemas para que você conheça os versos do Bruxo do Cosme Velho.

Boa leitura!

Livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Círculo vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
“Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

“Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela”
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume”!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta luz e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vagalume?”…

Ela (1855)

Seus olhos que brilham tanto,
Que prendem tão doce encanto,
Que prendem um casto amor
Onde com rara beleza,
Se esmerou a natureza
Com meiguice e com primor.

Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspira em doce poesia
Ao meu terno coração!

Sua boca meiga e breve,
Onde um sorriso de leve
Com doçura se desliza,
Ornando purpúrea cor,
Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza.

Com sua boca mimosa
Solta voz harmoniosa
Que inspira ardente paixão,
Dos lábios de Querubim
Eu quisera ouvir um -sim-
P’ra alívio do coração!
Vem, ó anjo de candura,
Fazer a dita, a ventura
De minh’alma, sem vigor;
Donzela, vem dar-lhe alento,
“Dá-lhe um suspiro de amor!”

Erro (1860)

Erro é teu. Amei-te um dia
Com esse amor passageiro
Que nasce na fantasia
E não chega ao coração;

Nem foi amor, foi apenas
Uma ligeira impressão;
Um querer indiferente,
Em tua presença vivo,
Nulo se estavas ausente.
E se ora me vês esquivo,
Se, como outrora, não vês
Meus incensos de poeta
Ir eu queimar a teus pés,
É que, – como obra de um dia,
Passou-me essa fantasia.

Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras.
Tuas frívolas quimeras,
Teu vão amor de ti mesma,
Essa pêndula gelada
Que chamavas coração,
Eram bem fracos liames
Para que a alma enamorada
Me conseguissem prender;
Foram baldados tentames,
Saiu contra ti o azar,
E embora pouca, perdeste
A glória de me arrastar
Ao teu carro…Vãs quimeras!
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras…

Carolina (1904)

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

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Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908).


PARA SABER MAIS

O alienista, O espelho, O caso da vara e Missa do Galo são alguns dos contos selecionados por John Gledson nessa edição da Companhia das Letras. Leitura indispensável para estudantes e apreciadores de literatura brasileira, 50 contos de Machado de Assis reúne os principais contos escritos pelo Bruxo do Cosme Velho.


Diferente do consagrado escritor crítico e sarcástico, Crisálidas apresenta ao leitor o lado poeta de Machado de Assis. Publicado em 1864, Crisálidas aborda temas próprios do romantismo como o subjetivismo, a idealização da mulher e o eu lírico romântico.


Com grande dose de ironia, Brás Cubas relembra de seus vários amores, de amigos como Quincas Borba, de sua infame formação acadêmica em Portugal e de sua vida cheia de privilégios. Nesta edição de Memórias Póstumas de Brás Cubas você encontra o texto integral acompanhado de explicações e ilustrações que o ajudarão a compreender melhor esse romance de Machado de Assis.


*Compre os livros pelos links disponibilizados e contribua com esse projeto.

REFERÊNCIA

ASSIS, Machado de. O Almada & outros poemas. São Paulo: Globo, 1997.

Quer saber mais sobre os principais autores da literatura brasileira? Acompanhe sempre as nossas publicações aqui no blog! 

3 comentários em “CINCO POEMAS DE MACHADO DE ASSIS PARA VOCÊ LER AGORA!

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