Clarice Lispector, um dos nomes mais importantes da terceira geração modernista, nasceu numa pequena cidade ucraniana chamada Chechelnyk, no dia 10 de dezembro de 1920. Para comemorar o mês de aniversário dessa importante escritora da literatura brasileira, apresentamos os desafios de ler suas obras, marcadas de mistérios e subjetividades.

TEXTO POR: PROFESSORA CARLA HOLZ

PARTE I: o desafio de ler clarice

Lembro-me da primeira vez que assisti à clássica entrevista concedida por Clarice Lispector à TV Cultura. Foi preciso coragem para ali permanecer. O desconforto em mim era evidente. As verdades e as dúvidas eram ditas pela escritora assim: sem o menor pudor e também sem espetáculos.

Escritora? Antes uma amadora! O pouco esforço de Clarice Lispector em ser uma escritora profissional contribuiu para a singularidade de sua obra. O que me pareceu é que o escrever em Clarice era antes de tudo um desabafo, um sair de si. Diriam os contemporâneos: uma terapia!

Escrever para organizar a bagunça interna me encoraja no exercício de pôr as ideias no papel. Quem é sagaz já percebeu que me valho das palavras nesse momento. Palavras escritas, palavras ditas… mas confesso que não resolve muito as coisas: a realidade é bagunçada e continua bagunçada. As pessoas continuam cheias de contradições. As palavras não são suficientes para organizar essa bagunça toda. Mas afinal, é preciso organizar essa bagunça toda?

PARTE II: DAS VANTAGENS DE SER MACABÉA

E o que dizer de Macabéa? O que dizer dessa moça tão sem tempero que protagoniza A Hora da Estrela, uma das obras de Clarice? Vigio-me constantemente quando estou a andar pela rua: será que estou sendo tão boba quanto Macabéa? Seria eu tão boba quando estou apaixonada por alguém?

Inútil. É claro que sou! O mundo é feroz e mais esperto do que a gente! Lembro-me então que Clarice nos convence também que ser bobo tem lá as suas vantagens.

Concluo que o tempero de Macabéa é ser uma moça de verdade. E então, a caminhar pela rua, sinto até certo entusiasmo por ser uma boba feito Macabéa.

PARTE III: CORAGEM, LEITORES! CORAGEM!

Compartilhar essas breves reflexões com os meus leitores exigiu de mim certa coragem, porém não tanta coragem quanto ler Clarice Lispector.

Creio que ler Clarice é urgente para muitos de nós, jovens que veem as suas paixões sendo sufocadas num mundo de produtividade e narcisismo. Lispector nos mostra que a vida também é arte, é silêncio, é reflexão. A vida é um mistério, portanto o desconforto é inevitável e exige de nós humildade para aceitar que há muitas coisas que simplesmente não sabemos.

Para quem compartilha desse mesmo desconforto ao ler Clarice Lispector, tudo que desejo é: coragem!


PARA SABER MAIS:

Clique aqui e assista à entrevista completa concedida por Clarice Lispector à TV Cultura.

Assista também ao filme A Hora da Estrela, com direção de Suzana Amaral, atuação da atriz Marcélia Cartaxo no papel de Macabéa e participação de Fernanda Montenegro no papel da Madame Carlota.

Leia Das vantagens de ser bobo, crônica de Clarice Lispector que você pode conferir também na voz de Bia Paes Leme.


E para você, também é um desafio ler Clarice Lispector? Deixe sua opinião nos comentários!

 

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